O ser humano é grão-mestre do escapismo e da fuga e sempre tenta jogar sobre os outros e sobre fatores externos a responsabilidade de seus atos. Seja o deus que levou sobre si os pecados do mundo, as obsessões, o meio, a criação, a presença ou a ausência dos pais, a culpa, a falta de oportunidades ou a maldade do mundo, justificativas não faltam para as pessoas se lambuzarem como porcos em seus erros e defeitos. O pensamento humano, covarde como a própria raça humana, goza de mecanismos variados que lhe servem de justificativa para seus erros. A máxima de que errar é humano é cantarolada de pé, de mãos dadas e dançada em roda e os humanos a usam o tempo todo para justificarem seu atraso no processo evolutivo, suas debilidades, defeitos, impotências e incapacidades.
O erro existe pela imperfeição da humanidade, assim como existe a imperfeição e o erro em todo o universo. Entretanto, as pessoas recebem o erro sempre de forma negativa; sempre se punindo, comprometendo o futuro pela inoperância no presente pelo fracasso do passado, ou se acomodando no erro. As pessoas se abraçam no erro, pois pensam que se o outro erra elas também podem errar. O primeiro erro é sempre natural e vem pela inexperiência, mas a partir do momento em que a pessoa já viveu este erro ela deveria ter a capacidade de aprender com ele para não errar novamente na mesma situação, mas não é o que ocorre; basta ver que a história da humanidade prova que os mesmos problemas vêm sempre se repetindo, já que os mesmos erros sempre se repetem.
A santificação de virtudes aleijadas e maquiavelicamente despretensiosas, que satisfazem os que não têm responsabilidade com a evolução e se contentam em serem eternas bestas espiritualmente quadrúpedes viciadas em drogas intelectuais como a verdade relativa e a força do achismo, serve de amparo à esta estrutura que desmotivaria qualquer raça no universo. A sinceridade virou virtude, como se algo se tornasse verdade apenas por ter sido dita com sinceridade, e a humildade criou a cultura de que o erro deve ser aplaudido e glorificado quando reconhecido, como se o reconhecimento do erro fizesse o tempo voltar e repararasse os danos causados pela tolice humana. A sociedade sem responsabilidade com a grandeza de sua espécie se rendeu às suas falhas e as bebe e saúda com vigor.
Crianças são educadas desde cedo a se desculparem. Desculpar-se virou sinônimo de grandeza e esta grandeza advém do erro. Não há razão para o homem não errar, já que é pacífico que o homem erra e que a humildade de reconhecer o erro é uma grande virtude e digna de louvor. Chega-se até mesmo à criação de um nefasto paradoxo onde para ser louvado pela virtude de reconhecer o erro é preciso errar e sente-se prazer no louvor do reconhecimento do erro. A beleza caiada da virtude da humildade no reconhecimento do erro ofuscou sua real fealdade. As pessoas fazem burradas atrás de burradas com tudo e todos em suas vidas, repetem eternamente os mesmos erros e acham que pedindo desculpas tudo estará perdoado e bem. Em termos de ética social basta ao tolo pedir desculpas; deixar de errar não é preciso, pois errar é humano.
As desculpas se tornaram mantras para as bestas humanas que não param de errar, repetir os mesmos erros, viver os mesmos defeitos infinitamente e que não têm compromisso com o acerto e a superação (a despeito de ser um atentado à dignidade intelectual de quem tem que ouvir isto o tempo todo). As pessoas reconhecem defeitos em si, continuam a ter e viver estes defeitos e vivem pedindo desculpas pelas condutas resultantes destes mesmos defeitos, sendo que na primeira vez que identificassem esses defeitos deveriam tratar de transmutá-los para que não existissem mais e assim não mais gerassem as condutas resultantes destes defeitos. Ficar o tempo todo choramingando que errou por ter determinado defeito tornou-se bonito, não deplorável. É mais fácil (e exige menos) choramingar.
Desculpas não mudam o mundo, ações sim. Desculpar-se não elimina o dano ocasionado, mas ações o reparam. Os quadrúpedes que erram o tempo todo deveriam, ao invés de apenas arrotar seus chatos e repetitivos mantras auto-vitimizadores, reparar o dano que ocasionaram. Se causaram prejuízo material a alguém e possuem cérebro pra produzir, devem trabalhar para ressarcir o dano. Se magoaram uma pessoa, que tratem de lhe fazer o bem, da forma que esta pessoa entende o bem, para compensar o mal que causaram. O pedido de desculpas feito por quem possui capacidade para reparar o dano que ocasionou é absolutamente inútil e para nada serve e quem desta forma o faz deveria ter vergonha de si por ser um grande covarde sem coragem de agir para reparar o mal que fez.
Desculpar-se pelo erro é válido apenas até o ponto em que a desculpa serve como reconhecimento do erro para si para que assim haja a transmutação do defeito e este deixe de existir, pois para mudar é necessária a consciência de que deve mudar e esta só vem pelo reconhecimento de que deve mudar. Aí que a desculpa cumpre sua nobre e eficaz função. As desculpas precisam parar de ser utilizadas como muletas para quadrúpedes sem compromisso com sua própria evolução e que abraçam suas imperfeições sem se preocuparem com o bem comum. É preciso consciência de cada um para que, motivado por um instinto próprio de superação, ao ver-se repetitivamente movido a desculpar-se pelos mesmos motivos haja um natural desconforto pela estagnação. Mais bonito do que desculpar-se é não errar.
Retirado do blog Rudy Rafael
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quarta-feira, 18 de maio de 2011
“Desculpe” – Uma Fuga da Responsabilidade?
Postado por
Liberdade
às
08:41
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Marcadores:
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Se o erro for repetido, realmente, o reconhecer e o pedir desculpas perde o valor. Mesmo se o erro foi cometido sequencialmente por toda uma vida, mas, um dia for reconhecido, ainda será algo valoroso se acompanhado de busca por repara-lo.
ResponderExcluirNo caso do eleitor da foto, entendo que ele tem parte da responsabilidade por quem se torna eleito, talvez a menor, no momento, em relação a responsabilidade do Estado brasileiro, com democracia em desenvolvimento. Só pra lembrar, o perfil do eleitor é de maioria analfabeta funcional, dados recentes.