Dharma (ou Darma) significa "Lei Natural", "Realidade" ou ainda "O modo que as coisas são" em tradução livre. O darma é a base das filosofias, crenças e práticas que se originaram na Índia, portanto não é uma exclusividade do budismo, e por esse motivo deve se considerar a existência de variações nas interpretações e perspectivas que cada cultura terá sobre o seu significado.
Especificamente para o Budismo, esse termo pode ser usado para expressar os seguintes:
1) O estado de natureza como ela é.
2) As "Leis"/Padrões da Natureza sendo considerados coletivamente, como uma totalidade.
3) Os ensinamentos de Buda sobre os padrões em que a existência opera, aplicada ao problema do sofrimento humano.
Não farei uma analise sobre os padrões em que a existência opera em um sentido amplo, pois existem muitas variáveis para serem levadas em consideração, portanto irei abordar apenas os ensinamentos de Buda em relação a psicologia humana.
- "Anicca"
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Arte de Marine Loup - "This Too Shall Pass" Tradução: "Isso Também Ira Passar" |
Podemos perceber a impermanência operando em nossas vidas diariamente. Contemplar isso é de extrema utilidade, pois faz cessar o nosso apego exagerado, o nosso "agarrar" exagerado.
A enfase em lembrar da impermanência é importante também para te puxar para fora da sua auto-imagem, para fora da ilusão de que você é seu veiculo(seu corpo), até mesmo sua mente, no sentido de livra-lo deste conceito de um "eu separado" e lembra-lo quem você é, o eterno AGORA em constante mutação.
A continuidade do seu "eu separado" é recriada a cada milissegundo pelo seu cérebro. No tempo que você estava lendo isso, o seu cérebro criou você milhares de vezes, e deixou para trás milhares de fantasmas de você. Você não é essas imagens mentais!
- "Dukkha"
Mas isso se deve à tradução simplista do termo: na verdade, a primeira Nobre Verdade diz respeito à dukkha', que não tem uma tradução literal, mas sim é todo um conjunto de ideias.
De uma maneira geral, dukkha diz respeito ao nosso condicionamento de vida dentro de experiências cíclicas, onde nos alternamos entre boas experiências (felicidade) e más experiências (sofrimento). Todos os seres buscam a felicidade e procuram se afastar do sofrimento: no entanto, nessa busca de felicidade e dentro da própria felicidade encontrada estão as sementes de sofrimentos futuros.

Além disso, as experiências são impermanentes, as ideias, os conceitos, os pensamentos, tudo é impermanente, muda. Por isso, dentro da experiência de felicidade, existe a causa de uma experiência de sofrimento, pois ela também é impermanente e irá mudar.
Então, dukkha representa todo esse ciclo, e a insatisfação que nunca será saciada enquanto seguirmos esse ciclo.
É necessário enfatizar que todos os vários aspectos de dukkha de fato tem sua origem em causas, o que assim possibilita sua investigação e, portanto, seu término. Ao encontrar as causas-raiz de dukkha e destruí-las, a vida humana pode se tornar feliz e próspera
- "Anatman"
Partindo do ponto de vista onde todas as coisas componentes ou condicionadas são impermanentes e estão em constante "estado de fluxo". Segue-se, daí, a ideia de "não eu" (anatta), que nega a existência de uma essência pessoal imutável e independente - em oposição à doutrina hinduísta de atman.
Os budistas afirmam que a noção de um "eu" permanente é uma das principais causas das guerras e conflitos na história humana e que, vivendo de acordo com a noção de anatta ou não eu, podemos ir além de nossos desejos mundanos. Na linguagem cotidiana, fala-se em "alma", "eu" ou "self". Nos meios budistas, porém, existe o entendimento de que nós somos interdependentes e cambiantes, em vez de personalidades independentes e imutáveis.
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por Alex Grey |
Essa noção contrasta com o conceito hinduísta de atman, que seria o ser que reencarna, representando a mais elevada centelha divina em cada ser humano. O pensamento budista nega essa ideia. Tanto o budismo quanto o hinduísmo concluem que há continuidade entre vidas. No entanto, suas doutrinas sobre o que continua de uma vida para outra divergem: no hinduísmo, há um "eu" transcendente (atman); no outro, há apenas tendências e processos mentais que renascem.
Resumo:
Ver as coisas como permanentes, capazes de satisfazer e existindo de forma independente são as três delusões que fundamentam a ignorância.
- Consideramos que nós mesmos e o mundo são entidades sólidas, estáveis e duradouras, apesar das constantes evidências de que tudo está sujeito à mudança e à destruição.
- Assumimos que temos direito ao prazer, e dirigimos nossos esforços para aumentá-lo e intensificá-lo com um fervor antecipatório que não é ameaçado pelos repetidos encontros com a dor, o desapontamento e a frustração.
- E nos percebemos como egos delimitados, apegando-nos às várias ideias e imagens que formamos de nós mesmos como uma identidade indiscutível e verdadeira.
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